quinta-feira, dezembro 08, 2005

Faxina no armário das emoções


Final de ano é uma época bem complicada pra mim. Meu inferno astral não é na véspera do meu aniversário, mas de final de novembro até meados de dezembro. Exemplo? Minha mãe foi para o hospital na véspera de Natal de 90. Ficou por lá até abril, faleceu no começo de dezembro de 91. Ainda olho as estrelas procurando por ela.

Acho que essa foi uma das minhas maiores 'descidas' ao inferno. Não aquele cristão, que até deve ser divertido, com diabinhos vermelhos espetando as bundas dos anjinhos e coisas afins, mas o de Hades mesmo.

Atualmente convivo com a certeza de que realmente fiz o que pude, talvez até mais. Meus demônios internos (os mesmos que me carregam e me tiram do tal inferno de Hades) às vezes me pinicam e cutucam dizendo que poderia ter sido diferente, que dava pra ter feito mais, que... (Aí você completa do jeito que os seus demônios quiserem.)

Claro que a areia do Sr. do Tempo vai polindo muitas das arestas. E isso me deixa respirar melhor. Consegui conviver e depois perdoar muitas das culpas que coloquei em mim mesma; depois consegui perdoar mágoas que nem eram minhas, mas arrebanhei pra mim. Um dia olhei pra elas, escondidas num canto do coração e as soprei para o vento levar embora, transmutar numa energia melhor. Uma boa tempestade caiu no dia seguinte...

Agora estou soprando outros 'dodóis'. Com mais gentileza que antes, tento sanar essas feridinhas antigas. As menores são as que doem mais, porque as maiores a gente logo cuida, trata e ajuda a sarar, enquanto as pequeninas se acumulam e criam uma crostinha deliciosa de tirar, cutucar até sangrar. E a ferida continua aberta.

Então, perdoei o pai ausente que vivia no mundo da lua. O primeiro ex, que disse a famosa besteira 'se não vai ser minha, não será de ninguém!', esse perdoei faz tempo e virei a página. Um ex-namorado que prometeu a primavera, mas em vez disso trouxe traição e decepção (existem traições além de envolvimento com outras mulheres; traição ideológica é terrível e fica ainda pior quando envolve dinheiro).

Perdoei também muita gente da família: a falta de comunicação com os avós estrangeiros, que sempre se mantinham distantes, porém nem falavam direito o português das terras daqui, como poderiam se comunicar? Perdoei os tios, que queriam que as coisas fossem do jeito deles e não do jeito que são, o que dificultou um bocado alguns processos... As primas que fizeram as pequenas maldades da infância, coitadas, acabaram sofrendo tanto na vida, sem aproveitar as tantas oportunidades que tiveram.

Também fiz faxina em casos mal-resolvidos de gente se dizia amiga, mas que estava interessada em manipular, dividir e conquistar, na melhor tradição de Machiavel (mas sem a classe da nobreza italiana). Um em especial tinha talento para a novela mexicana, tudo era ataque, tudo era contra ele. Dá até pena perceber que algumas pessoas não conseguem ir além dos próprios limites. E nem tentam lutar contra os próprios grilhões, preferem se alimentar da energia alheia...

No caminho, perdoei os homens por magoarem as mulheres, só por não conseguirem compreender seus meandros e sonhos e ilusões. E até minha mãe por me tornar tão encouraçada contra o amor deles.

Claro que ainda falta montes de outros perdões. A comentar depois de perdoar!

Se o mundo muda amanhã, não sei. Vou é dormir bem mais leve hoje. E sem arrependimentos.


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