terça-feira, fevereiro 17, 2004

As avós mal-humoradas


Cada vez mais compreendo as vovós mal-humoradas. Talvez eu esteja me tornando uma delas. Putz grila, eu só tenho 35 anos! Nem filho tenho, mas tou cada vez mais me identificando com essas vovós...

Conforme o tempo passa, vou perdendo mais e mais a paciência com as criaturas soberbas e sem respeito pelos outros. Só elas sabem e podem. Urgh!

É tão difícil assim aceitar que qualquer pessoa pode se conectar ao sagrado? Por que é, então, tão difícil que os outros respeitem as opções que fazemos? Família já força a barra o suficiente! E ainda temos que encarar gente que quer aparecer por cima do outro.

Ah, a razão desse desabafo. Entrei num projeto pra ver se tomo vergonha nesta cara de pau e volto a escrever com mais frequência sobre bruxaria e Wicca. De cara, recebo uma msg onde uma conhecida diz ter conseguido colocar de pé o primeiro templo pagão do Brasil. Poxa, e os templos de umbanda, candomblé, até mesmo existe um Templo de
Bruxaria na Bahia, que já tem mais de 50 anos, poxa de novo, tudo isso foi ignorado por conta do desejo desta senhora, de ser a única em possuir um templo pagão!

É, people, nem tudo reluz no cenário pagão. Ao contrário. Aqui nestas bandas tupiniquins existe uma luta meio escancarada de egos que, em vez de trabalhar pelo bem comum, preferem brilhar em listas de discussão ou televisão. Ou em lançamento de livro copiado de autores estrangeiros!

Ok, ainda tenho esperanças. Várias, aliás!

De que um dia a gente vai conseguir liberdade real, pra poder contar pra quem quiser que é bruxo (ou xamã, ou umbandista, ou seja lá o caminho que se optou seguir).

De que a gurizada ter mais bom-senso, tratar de ler e pesquisar, antes de se meter em roubada ou cair nas garras de associações, abracacas mais interessadas em obtenção de poder pessoal do que em mostrar a liberdade do caminho bruxo.

De que o povo uma hora se une contra leis absurdas que forçam o estudo e a religião goela abaixo do povo.

Ah, também tenho a esperança de virar tia-avó, daqui a alguns vários anos. E espero ter menos rabugice e mais histórias pra contar... ;-D

Baccios!

quarta-feira, janeiro 28, 2004

A Nuvem e a Duna

Uma jovem nuvem nasceu no meio de uma grande tempestade no Mar Mediterrâneo. Mas sequer teve tempo de crescer ali; um vento forte empurrou todas as nuvens em direção à África.

Assim que chegaram ao continente, o clima mudou: um sol generoso brilhava no céu e embaixo se estendia a areia dourada do deserto de Sahara. O vento as continuou empurrando em direção às florestas do sul, já que no deserto quase não chove.

Entretanto, assim como acontece com os jovens humanos, também acontece com as jovens nuvens: ela resolveu desgarrar-se do seus pais e amigos mais velhos, para conhecer o mundo.

- O que você está fazendo? – reclamou o vento. - O deserto é todo igual! Volte para a formação e vamos até o centro da África, onde existem montanhas e árvores deslumbrantes!

Mas a jovem nuvem, rebelde por natureza, não obedeceu; pouco a pouco, foi baixando de altitude, até conseguir planar em uma brisa suave, generosa, perto das areias douradas. Depois de muito passear, reparou que uma das dunas estava sorrindo para ela.

Viu que ela também era jovem, recém-formada pelo vento que acabara de passar. Na mesma hora, apaixonou-se por sua cabeleira dourada.

- Bom dia – disse. - Como é viver aí embaixo?

- Tenho a companhia das outras dunas, do sol, do vento e das caravanas que de vez em quando passam por aqui. As vezes faz muito calor, mas dá para agüentar. E como é viver aí em cima?

- Também existe o vento e o sol, mas a vantagem é que posso passear pelo céu e conhecer muita coisa.

- Para mim a vida é curta – disse a duna. – Quando o vento retornar das florestas, irei desaparecer.

- E isso lhe entristece?

- Dá-me a impressão que não sirvo para nada.

- Eu também sinto o mesmo. Assim que um novo vento passar, irei para o sul e me transformarei em chuva; entretanto, esse é meu destino.

A duna hesitou um pouco, mas terminou dizendo:

- Sabe que, aqui no deserto, nós chamamos a chuva de Paraíso?

- Eu não sabia que podia me transformar em algo tão importante – disse a nuvem, orgulhosa.

- Já escutei várias lendas contadas por velhas dunas. Elas dizem que, após a chuva, nós ficamos cobertas de ervas e de flores. Mas eu nunca saberei o que é isso, porque no deserto chove muito raramente.

Foi a vez da nuvem ficar hesitante. Mas logo em seguida, tornou a abrir seu largo sorriso:

- Se você quiser, eu posso lhe cobrir de chuva. Embora tenha acabado de chegar, estou apaixonada por você e gostaria de ficar aqui para sempre.

- Quando lhe vi pela primeira vez no céu, também me enamorei – disse a duna. – Mas se você transformar sua linda cabeleira branca em chuva, terminará morrendo.

- O amor nunca morre – disse a duna. – Ele se transforma; e eu quero mostrar-lhe o Paraíso.

E começou a acariciar a duna com pequenas gotas; assim permaneceram juntas por muito tempo, até que um arco-íris apareceu.

No dia seguinte, a pequena duna estava coberta de flores. Outras nuvens que passavam em direção à África achavam que ali estava parte da floresta que andavam buscando e despejavam mais chuva. Vinte anos depois, a duna havia se transformado num oásis, que refrescava os viajantes com a sombra de suas árvores.

Tudo porque, um dia, uma nuvem apaixonada não tivera medo de dar sua vida por causa do amor.

desconheço o autor.

Fiquem na Paz

Trinity