domingo, novembro 30, 2003

Iniciantes

Tenho percebido o interesse de muitas pessoas que querem conhecer melhor a Bruxaria.
Muitas escrevem pedindo dicas, como fazerem a auto-iniciação, como conhecer outros bruxos, o que precisam fazer pra virarem bruxos...

Meu conselho ao aspirante a bruxo, a alguns anos, continua sendo o mesmo: Leia. Pesquise, muito! Comece por sites, para ajudar montei até um guia de sites em parceria com o Projeto Sobresites, é o Guia de Wicca e lá tem muita coisa legal pra se olhar. Continue lendo mais um pouco. Ah, eu disse leia? Leia também, mais. E não só sobre bruxaria em si, procure história, arqueologia, para assim ter base a fim de compreender as razões que fizeram os homens acreditarem em Deuses e as transformações que ocorreram nas crenças.

Também tente conhecer melhor assuntos como mitologia, astrologia, ervas, cores, velas... Procure entender as razões por trás dessas escolhas. Por que o vermelho está associado a Marte? Por que o dia de Marte é a terça feira? E assim por diante... Existem correlações importantes e são elas que fazem o feitiço funcionar. Um feitiço nada mais é do que uma conversa com o universo, então o bruxo precisa aprender como executá-la de forma que o universo responda de forma adequada. Outra ferramenta fantástica é o Tarô (aliás, o Sobresites também tem um excelente guia de tarô).

Não tenha pressa em fazer uma auto-iniciação. Que ela seja a confirmação de que este realmente é o caminho que seu coração deseja.
Antes da iniciação, medite muito para saber como você vai lidar com o preconceito (ele aparece até onde a gente menos espera), se você já tem a maturidade para dar um passo como esse. Reflita em como sua família vai reagir, é algo importante, e lembre-se que sua religião deve lhe fazer feliz. Confirme que está realmente interessado na religião, que não é algo para provocar seus pais (já vi isso!)...
E considere que a iniciação é só o começo, o início. Depois dela, o trabalho aumenta MUITO!!!

Por enquanto é isso. Pense, amadureça a idéia. Medite bastante, sossegue a mente, deixe o coração falar.

O caminho é difícil, cheio de obstáculos. E pede muita força de vontade... é isso mesmo o que você quer?


Abraços,

Lia

quarta-feira, novembro 12, 2003

As mudanças se aproximam...

A goiabeira está toda florida... a pitangueira já deu frutos, o chão está coalhado, pena que seja do vizinho e eu só fico na vontade, observando-os cairem... ao menos os passarinhos aproveitam.

Tivemos um eclipse lunar fantástico neste sábado. Fiquei horas observando a lua, com meu marido querido ao lado. E foi uma ocasião mais que especial, contando com o selo de salomão formado no céu pelas conjunções que a Lua fez nesse momento.

Preparem-se, vamos ter grandes mudanças. As pessoas que estão conscientes perceberão com mais clareza... e tudo será com uma velocidade espantosa, típica da era de Aquário que se aproxima.

Aproveitando, aqui está a mensagem que eu mais gostei a respeito, espero que aproveitem!

Abraços,
Lia

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ECLÍPSE LUNAR DE 08/11/2003 * 22:13Hs. Legal de Brasília


Os Eclipses são fenômenos que se repetem a cada seis meses por causa da rotação do Sol, da Terra e da Lua e se intercalam: uma eclipse acontece porque a sombra da Terra é projetada sobre a Lua e a outra porque a Lua se interpõe entre a Terra e o Sol. Os eclipses desde sempre causaram espanto e maravilhas nos seres humanos, e mais ainda aqueles que por sua natureza mais contemplativa estão sempre conectados com o macrocosmo e procuram se conectar com aquele grande livro aberto que Deus colocou sobre nossa cabeça. Lembrando da Lei Hermética: "O que está embaixo é como o que está em cima, o que está em cima é como o que está em baixo", o Microcosmo e o Microcosmo são idênticos em natureza mesmo se diferentes na manifestação. A observação dos fenômenos celestes não pode não ser conectados com os acontecimentos sobre a Terra.

O Eclipse do próximo dia 8 de novembro acontece no Eixo Touro/Escorpião, ou seja, o Sol encontra-se no signo de Escorpião e a Lua no signo de Touro. Isso coloca o foco na necessidade de transformarmos as formas com as quais
nos apegamos às coisas e, para obter segurança, tentamos manipulá-las e controla-las.

Quando olhamos o céu como Cosmo-analistas, podemos fazer muitas analogias que nos são úteis e nos ajudam em nossa evolução espiritual.

No dia 8 de Novembro acontece um fenômeno raríssimo que fará com que, no momento do eclipse, além da oposição do Sol e da Lua irão se conectar automaticamente mais quatro planetas: Saturno, Marte, Júpiter e o Quiron (Obs: este não é um planeta mas deve ser considerado como tal por formar a conexão de uma das Pontas da Estrela à qual nos referimos.

Os planetas envolvidos nesse fenômeno são todos Planetas Pessoais, ou seja, não estão envolvidos nessa Grande Estrela os planetas exteriores: Urano, Netuno e Plutão. Isso nos dá uma grande chance de trabalharmos essa energia
como indivíduos, seja no micro que no macro, cada um na sua própria individualidade. A energia irá nos beneficiar como pessoas e como grupos ou como nação.

Quando se considera o Quiron com toda a simbologia analógica a ele relacionada, os dois Grandes Trígonos se entrelaçam formando a Estrela de David, ou Selo de Salomão, Grande Estrela de Seis pontas, ligando entre si dois elementos da natureza: a Água e a Terra.

O Trígono da ÁGUA é o trigono receptivo, que se abre para cima como uma taça para receber o orvalho celeste; o trígono da TERRA é um trígono receptivo no sentido de guardar e dar abrigo ao orvalho recebido para que ele alimente as sementes e as fertilize. Os dois elementos são tidos como FERTEIS pela astrologia. De uma certa forma são dois elementos de receptividade e retenção o que nos obriga a pensarmos de que forma nós trabalhamos individualmente essas duas características na nossa própria personalidade.

Vejamos as posições dos planetas:

Sol = 16º de Escorpião = Elemento Água

Lua = 16º de Touro = Elemento Terra - conjunta ao Nó Lunar R ou Cauda do Dragão.

Marte = 10º 34 de Peixes = Elemento Água = A órbita considerada com a Lua é de 6º.

Júpiter = 14º de Virgem = Elemento Terra

Saturno = 13º de Câncer = Elemento Água

Quiron = 14º de Capricórnio - conjunto com a Roda da Fortuna

O Sol se opõe à Lua e forma um trígono com Saturno e Marte e um sextil com o Quiron e com Júpiter.

Marte se opõe à Júpiter e forma um trígono com o Sol e Saturno e um sextil com o Quiron e com a Lua.

Saturno se opõe ao Quiron e forma um trigono com o Sol e Marte e um sextil com Júpiter e com a Lua.

Cinco planetas são masculinos e a Lua feminina.

Podemos ver que, além dos dois grandes trígonos teremos também duas grandes oposições: do Sol e da Lua, de Marte e Júpiter.

O Sol e a Lua são chamados de Luminares, ou seja "doadores de Luz". Do Sol emana a Luz direta, da Lua a Luz refletida. Mostram a dualidade dentro da personalidade do ser humano, o animus e a anima. Marte e Júpiter são
planetas de ação e sua oposição nos indica a necessidade de considerarmos nossos impulsos instintivos sob a ótica da ética e da moral.

Marte termina a conquista do caminho que perdeu durante a sua retrogradação (a 10º-7 de Peixes), abrindo o espaço para uma nova caminhada, um novo impulso e uma nova ação.

Mercúrio (apesar de não envolvido no aspecto) muda de grau enquanto acontece o eclipse, o que demanda uma especial atenção de nossa mente e uma necessidade de buscar a comunicação entre as pessoas. Mas isso pode nos indicar também que não devemos raciocinar, mas sim "sentir", deixar falar nossa intuição ou mente superior.

Outras considerações sobre esse fenômeno excepcional:

O Sol está em conjunção com a Estrela fixa ACRUX da Constelação Alpha-Crux (ou Cruzeiro do Sul) que tem analogia com o planeta Júpiter

A Lua está em conjunção com Hamal e Menkar, duas Estrelas fixas da constelação de Touro. Hamal tem a energia de Saturno/Marte e Menkar tem a energia de Vênus.

Marte está em conjunção com a Estrela Archenar da Constelação de Peixes e tem analogia com a energia de Júpiter.

Júpiter está em conjunção com Denebola, da constelação de Virgem, estrela com energia de Saturno/Vênus.

Saturno está em conjunção com a Estrela Sírius da Constelação Alfa-Grande Cão, e tem analogia com Júpiter/Marte.

Quiron está em conjunção com a estrela Vega, da Constelação Alfa-Lira, e tem analogia com Vênus/Mercúrio.

Cada um desses Planetas possui energias próprias, qualidades e defeitos que podem e devem ser analisadas detalhadamente. Para conhecer as analogias de cada Planeta veja no site os artigos sobre os Planetas.

Sabemos que a Estrela de Seis Pontas possui um significado místico muito profundo que se perde para trás nos tempos, e não é especificamente ligada a nenhuma religião. Pitágoras usava esse símbolo como sendo o símbolo da Grande Harmonia. Apesar de nos termos familiarizados com ela porque ela é o símbolo do judaísmo, suas fontes são muito mais remotas, já que já na época dos Egípcios existem desenhos similares. Pitágoras, o grande iniciático Grego, também considerava esse símbolo para figurar o entrelaçamento das forças masculinas e femininas.

Vemos então que está se delineando no Céu, nesse dia excepcional, uma grande Concordância Harmônica que nos abre uma oportunidade ímpar de entrar nessa grande energia através desse portal que irá se abrir no momento em que
a Lua irá desaparecer para entrar na sombra da Terra. Neste piscar de olhos, a Terra abre seu ventre para as energias planetárias e ingressa numa nova Era de energias cósmicas e evolutivas.

Esse acontecimento nos oferece uma oportunidade excepcional e incomparável para que possamos fazer uma grande corrente de energia para entrar nessa corrente que indica a abertura de um Portal Cósmico capaz de ajudar a Terra
em seu caminho de Evolução.

No Calendário Maia o Eclipse está indicado como sendo um realinhamento necessário para a humanidade em seu ciclo natural de experimentação evolutiva. Assim estaremos tentando modificar o curso do ciclo que está nos levando, segundo os Maias, a nos estatelarmos contra o muro da necrosfera em 2012 se nada for feito para modificar o curso das ações da humanidade.

Na astrologia tradicional podemos usar simplesmente a analogia que nos foi ensinada por Hermes Trismegisto e assim nos alinharemos, juntamente com milhares de grupos e outros seres humanos ao redor da Terra, numa comunhão
única e ímpar de direcionamento planetário. Analisando o significado de cada planeta em seu Mapa Natal e procurando compreender como cada uma dessas energias estará agindo sobre você, você já estará fazendo um grande passo
para frente no caminho de sua evolução espiritual.

As pessoas que estão conscientes dessa energia de mudança que nos abrirá um grande Portal Cósmico estarão se reunindo em grupos, ao redor do mundo para efetuar peregrinações e cerimônias que os sintonizarão como UM ÚNICO SER, no intuito de elevar o espírito da humanidade e despertar a consciência de todos. As cerimônias simultâneas formarão uma grande corrente energética que será capaz de modificar o rumo da humanidade. Precisamos acreditar nisso com todas as nossas forças!!!

Fonte * Graziella Marraccini

segunda-feira, novembro 03, 2003

SACI –PERERÊ A AVE FEITICEIRA

Nenhum dos velhos cronistas do Brasil Colonial registrou o Saci como é conhecido no Sul do país. Nem Vasconcelos, Anchieta, Soares de Souza, Gandavo, Fernão Cardim, Staden, Thevet, Abbeville, Evreux, Nóbrega, frei Vicente do Salvador, João Daniel incluem o Saci entre as curiosidades assombrosas da terra nova. Nem Marcgrave, Morisot (nas notas de Roulox Baro), Jacob Rabi, nenhum autor holandês lembra as andanças do Saci.

Saci, ave

Saci – Tapera naevia. Também chamado Sem-fim. Etym: h –ã (h-ang) cy = o que é mãe das almas. (Cf. Baptista Caetano: 3,86; porque segundo a lenda, chupa a alma dos defuntos. O h demonstrativo corresponde a Y e tornar-se ç = s, quando se fixa ao termo; ã por ang = alma, e cy mãe. Para outros é onomatopaico. A superstição popular faz dessa ave uma espécie de demônio, que pratica malefícios pelas estradas, enganando os viandantes com as notas de seu canto e fazendo-os perder o rumo.

Mas a identificação do Saci-ave não fácil nem uniforme. A Tapera naevia é chamada, no Nordeste brasileiro, Peitica e também Sem-Fim. Peitica é ainda a Empidonomus varius Viell, a popular Maria-já-é-dia. Com igual nome há uma Elaenia, a Elaenia flavogaster. O “Alma de Caboclo” (Diplopterus naevius) é dado como sendo o Saci. É o mesmo Piaya cayana, de Linneu que, ensina Snethlage, tem mais três sinônimos: O xicoã ou Tincoã, Pássaro-feiticeiro, Pássaro-pajé, Uira-pajé. Guarda ele o espírito dos mortos, “chupa a alma dos defuntos”, na definição de Batista Caetano de Almeida Nogueira.

A impossibilidade de localizar o Saci num pássaro é a mesma que se luta para identificar o Uirapuru, a ave fantástica do Amazonas, égide suprema, cheia de mistérios, reunindo derredor de si todos os pássaros seduzidos pelo seu canto irresistível. Lehmann-Nitsche mostra, sem insistir pela característica, que as aves que possuem fabulário têm esse canto disperso e melancólico. Pelo canto ninguém é capaz de encontrar o Urutau, a triste “Mãe da Lua” das nossas matas. Caprimulgos, Strix possuem o sinistro domínio do pavor. Muitas vezes, no sertão de minha terra, a “Remington” de repetição pronta para o tiro, procurei o “Vem-Vem”, de dia, ou a “Mãe da Lua” à noite, guiado pelo seu insistente lamento ou obstinado assobio. Ouvia-o por todos os lados como diluído na mataria. Nunca consegui alvejar um só desses pássaros, razão para aumentar-lhes a fama do disfarce e da impossibilidade de uma descarga certeira e feliz.

Da origem lendária do pássaro, Barbosa Rodrigues recebeu uma estória que publicou na Poranduba Amazonense. No mundo amazônico o Saci é mito ornitomórfico e não andromórfico. Há Saci-ave. Não há Saci-moleque. Esta é a lenda do rio Solimões.

Um tuixaua tinha dois filhos e vivia feliz com eles. O tio odiava os sobrinhos e convidou-os para ajudá-lo numa derruba de árvores para fazer um plantio. Os dois sobrinhos aceitaram. Chegados na floresta, o rio embriagou os dois rapazes e matou-os. Depois, um dos assassinados perguntou ao outro: o que foi que tu sonhastes ? Sonhei – diz o segundo – que nós nos lavávamos com carajuru. – O mesmo sonhei eu. E voltaram para a casa da avó. Vendo-os, a velha ia aquecer o jantar, mas os dois netos disseram: Ah! Minha avó, nós não somos mais gente, e sim só o espírito. Assim seja, minha avó, nós te deixamos e quando ouvires cantar “Tincuan! Tincuan! Foge para casa e quando cantarmos “Ti...ti...ti” então reconhecerás. A cor vermelha que os netos tinham nos olhos era o sangue. Ficaram, desde então, mudados em dois pássaros de agouro, de mistério e de morte. Um í o Uira-Pajé, Alma de Caboclo, o Sem-Fim, o Saci. O outro é Mati-taperé. Ambos, nascidos numa tragédia, espalham desgraças e semeiam pavores.

O carajuru é a Bignonia chica ou Lundia chica, ensina Barbosa Rodrigues. É um cipó de cujas folhas se extrai um pó vermelho-vivo que os indígenas empregam na pintura de tecidos, uso de remédios e especialmente na “pajelança”, feitura de puçangas, etc.

Saci – Casta de pequena coruja que deve o nome ao grito que faz ouvir repetidamente durante a noite. É pássaro agourante. Contam que é a alma de um pajé, que não satisfeito de fazer mal quando deste mundo, mudado em coruja vai à noite agourando aos que lhe caem em desagrado, e que anuncia desgraças a quantos ouvem. O nome de saci é espalhado do Amazonas ao Rio Grande do Sul. O mito, porém, já não é o mesmo. No Rio Grande é um menino de uma perna só que se diverte em atormentar à noite os viajantes, procurando fazer-lhes perder o caminho.. Em São Paulo é um negrinho que traz um boné vermelho na cabeça e freqüenta os brejos, divertindo-se em fazer aos cavaleiros que por aí anda toda a sorte de diabruras.

O Saci é a Mati-taperê, a Matinta-pereira dos paraenses e bares. Já em 1875 Gonçalves Tocantis registra sua presença nas tradições dos índios Munducurus. Mas os indígenas tinham a Matinta como a visita de seus antepassados. Uma ação de presença das “almas”. A Matinta era, como Acauã, o beija-flor, portadores do espírito dos mortos. A Matinta atual é o corpo que abriga o espírito de um ser vivo. Por encantamento alguém se pode mudar em Matinta e voar durante a noite, espalhando pavor. Pela madrugada volta à forma humana. A Matinta dos Munducurus não era assim. Com o Saci se dá o mesmo. Ninguém pode tornar-se Saci e andar pedindo fumo pelos caminhos noturnos. Saci é Saci a vida inteira. Mas o que se deduz é ter Barbosa Rodrigues coligido o mito quando de sua forma primitiva e sagrada. Um sinônimo do Saci, uma visão assombradora, mas sobrenatural.

Stradelli já descreve a Matinta em sua metamorfose atual, dando-a como uma pequena coruja e explicando, para maior confusão com os mitos do Saci, do Caapora e do Corupira, que:

..segundo a crença indígena os feiticeiros e pajés se transformam neste pássaro para se transportarem de um lugar para outro e exercer suas vinganças. Outros acreditam que o Mati é uma Maáyua, e então o que vai à noite gritando agoureiramente é um velho ou uma velha de uma perna só, que anda aos pulos.

Escreve o mesmo sobre a Maty-taperê:

Maitiî-taper-ê, o pequenino propenso às ruínas (tapera), isto é, o ente minúsculo que gosta das taperas ou vive nelas. Em verdade, Matiî exprime coisa muito pequena, o vulto insignificante. Taperê é taper-ê, que quer dizer – propenso ou dado às ruínas. Para o gentio brasileiro o maty-taperê é um gênio maléfico, refugiado nas aldeias abandonadas, e que perseguia a quem, imprudente, delas se avizinhava.. Costuma a andorinha aninhar-se nesses lugares e, por isso, o índio a apelidava – taperuá – que quer dizer morador das taperas ou ruínas. Daí o dizer-se que o maty-taperê tomava sempre a figura de um pássaro pequenino, como a andorinha, e assim se disfarçava (Tupi na Geografia Nacional, 3ª edição. Bahia, 1928).

Pelo que possuímos em lendas, tradição oral, depoimentos, sabemos que a Matinta nada tem que ver com ruínas. Aparece de noite nas vilas, cidades, povoados, atravessando o espaço com seu grito arrepiante. Não castiga nem persegue quem visita as taperas. Ninguém sabe onde a Matinta está residindo. Os paraenses e amazonenses de hoje apontam velhas como possuindo o condão de mudar-se em Matintas. Ouvindo o seu grito os moradores prometem em voz alta, fumo. Pela manhã uma velha mendiga aparece esmolando. É a Matinta que vem cobrar a promessa.

Barbosa Rodrigues ensina que o mito do Saci se confundiu com tantos outros, especialmente derredor das aves de canto disperso ou, como esse pássaro que tem o hábito de pousar numa só perna, dando a impressão de ser unípede. O Saci quando tornado mito andromórfico só terá uma perna e Lehmann Nitsche levá-lo-á aos astros, identificando-o com a Ursa Maior.

Poder-se-à dizer, evidentemente, que a ave ou aves que determinam o mito da Matinta são as responsáveis pelo Saci atormentador. O mito é, pelo que me parece, inicial e unicamente ornitológico. Ainda é de notar que no sul do Brasil o Saci-pererê como o moleque ágil, não retoma a forma de ave. Saci sulista não guarda o segredo da Matinta paroara.

Texto extraído do Geografia dos Mitos Brasileiros de Luís Câmara Cascudo.

Este texto foi postado na lista Wytcheriebrazil por Monologal.